sexta-feira, 4 de junho de 2010

HISTÓRIA DE MOGLI

As florestas da Índia têm tantas lendas quantas as folhas nas suas árvores, dentre elas talvez nenhuma tão misteriosa quanto à de Mogli, o Menino Lobo.
Há muito, muito tempo atrás, num anoitecer nas montanhas sobre as planícies de Seeonee, pai lobo e mãe lobo ouviam as lamurias de Tabaqui o chacal. Desprezavam-no por sua covardia e subserviência, por seu hábito de comer restos e revirar o lixo, mas sabiam que ele era sempre bem informado. Tabaqui contou que Shere Khan o tigre, havia mudado seus campos de caça, vindo das margens da nascente do grande rio Waingunga, a mais de trinta quilômetros dali, desobedecendo assim, uma das leis da selva.
O tigre era manco de nascença e só caçava o gado manso e velho das aldeias, atraindo a ira dos aldeões que, cedo ou tarde, invadiam a Jângal com suas armas e tochas. Por isso a notícia de sua vinda encheu pai lobo e mãe lobo de apreensão, o que deixou Tabaqui muito satisfeito. Mal havia saído o chacal e os lobos perceberam, com seus sentidos incrivelmente aguçados, os sons e os odores de uma caçada fracassada, ouviram o uivo do felino que perdera o bote deixando escapar sua presa.
Mãe lobo compreendeu de imediato o que se passara.
_Shere Khan não caçava antílopes, concluiu ela , ... estava caçando homens. Nesse instante ficaram em guarda pois viram surgir dentre os arbustos, um bebê, muito moreno e nu, que os olhava sorrindo. Pai lobo exclamou espantado.
_ Um filhote de homem! Pegou-o como fazia com seus próprios filhotes, trazendo-o para a loba e sua ninhada.
O menino, sem nenhum medo, aconchegou-se entre os corpos peludos dos lobinhos. Então, na entrada da caverna, apareceu a cabeçorra de Shere Khan. Cheio de ódio exigiu o bebê. Pai lobo desafiou o tigre. E mãe lobo disse que Mogli, o filhote de homem, a partir daquele instante seria dela, que o manteria vivo e em segurança para que um dia, feito homem, fosse ele a caçar o covarde tigre manco, assassino de bebezinhos indefesos.
Shere Khan prometeu ir a reunião do conselho da alcatéia quando o menino seria apresentado aos outros lobos, conforme a lei. O conselho com mais de uma centena de lobos reunidos sob a chefia de Akela, o lobo solitário, ouviu em defesa de Mogli os argumentos de Balu o urso marrom, mestre das leis da Jângal, e aceitou a proposta de Baguera, a pantera negra, que entregou um touro jovem que havia acabado de abater em troca da vida do menino, e assim, Akela determinou que Mogli ficaria entre eles para crescer livre e protegido pela matilha.
Dez anos se passaram, Mogli era saudável e feliz entre seus irmãos, filhos de pai e mãe lobo e entre seus amigos Baguera, Balu e Kaa, a serpente. Viveu incríveis aventuras. No entanto Akela, o líder da alcatéia, envelhecia, logo ele erraria o bote pela primeira vez, assim como muitos dos lobos mais velhos.
Shere Khan usava sua influência sobre os jovens lobos e convencia-os que Mogli era um intruso perigoso. Baguera sabia que quando Akela perdesse seu bote, ambos morreriam, o Lobo Solitário e Mogli.
O plano para salvar sua vida passava pela aldeia dos homens e Mogli, que vivia à espreita, observando-os, achou fácil roubar uma vasilha cheia de brasas das mãos de um apavorado menino. Na caverna de mãe lobo ficou todo o dia soprando as brasas e cobrindo-as com gravetos secos para mantê-las vivas. Naquela noite Akela perdeu o seu bote e o conselho reuniu-se para assistir a luta de morte que elegeria um novo líder. Mogli, entre Baguera e Balu, segurava seu pote de barro com as brasas.
Shere Khan falou contra Akela e contra Mogli, incitando os lobos a matá-los. Então, derrubando as brasas, Mogli fez imensa fogueira dos arbustos secos aos seus pés. Os animais recuaram aterrorizados. Usou um galho como uma tocha e assim armado com a , “flor vermelha”, que era como os animais chamavam o fogo, o menino de dez anos agiu como homem pela primeira vez. Puxou os bigodes do tigre, chamou-o cão sarnento e manco, obrigou-o a tremer de pavor e a fugir chamuscado pelo fogo que ele brandia sobre a cabeçorra malhada.
Aos lobos, chamou-os traidores e disse que iria embora, uma vez que era o que todos queriam. Exigiu que fosse poupada a vida de Akela, e que ele fosse sempre ouvido nas reuniões do conselho.
Depois, sentiu uma tristeza enorme, pensou que estava morrendo, mas Baguera disse que eram apenas lágrimas, com a cabeça enterrada no colo peludo de Balu ele chorou. E assim, Mogli deixou a Jângal e foi viver entre os homens.
Messua, uma jovem viúva pensou reconhecer nele o filho que o tigre lhe havia roubado ainda bebê. Mogli começou a aprender a língua e os costumes daquela gente. Sua tarefa era pastorear os búfalos. Numa tarde em que cuidava do rebanho seus irmãos lobos vieram alertá-lo de que Shere Khan havia voltado com a intenção de caçá-lo. Com a ajuda dos irmãos lobos e dos búfalos Mogli armou uma armadilha para o tigre. Encurralou-o numa ravina com a manada de búfalos enraivecidos disparando contra ele. Antes do amanhecer daquele dia Mogli apresentou-se diante do conselho da alcatéia de Seeonee, usando como capa, a pelagem listrada de Shere Khan.
Fonte: http://pt.shvoong.com/books/471204-mogli/

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